Ao passar junto de uma vide, esta arrebatou-lhe o manto. Indignado, o passante pergunta-lhe por que razão o odiava ela tão veementemente. Ao que ela lhe respondeu: já que os teus ossos se abeberam do meu sangue, porque passas por mim e não me cumprimentas? Este diálogo não existe, nunca existiu, tal como o tempo histórico em que, porventura, pudesse ter existido também não existe. Aliás, nada existe, porque nada resistiu à narrativa ditada pela “voz” apostólica-romana dos vendedores. E, no
entanto, eles, os “outros”, andaram por cá durante mais de meio milénio. Se há um buraco negro na nossa memória coletiva, ele abre-se no preciso período de dominação árabe do território a que hoje nomeamos de Portugal. O homem que passa é Al-Mu’Tamid e o sangue da vide, personificado, é um dos elementos centrais da sua obra poética. Al-Mu’Tamid nasceu em Beja, em 1040, no seio de uma família da nobreza moura, ilustrada, como o eram as elites árabes do chamado Al Andaluz. Com apenas 13 anos encabeçou um cerco militar à cidade de Silves, tendo-lhe sido atribuído o cargo de governador daquele importante porto fluvial algarvio. É em Silves que conhece e que se deixa “enamorar” por outro dos principais poetas e pensadores do espaço hispano-árabe: Ibn’Ammar. Com a morte de seu pai, Al-Mu’Tamid assume o trono do reino taifa de Sevilha, entregando a governança de Silves ao seu “especial” amigo. Ibn’Ammar acabará por ser requisitado para a corte de Sevilha, mas a sua extrema ambição e o ciúme doentio que nutria pela esposa favorita do rei, Itimad, levaria a que o próprio AlMu’Tamid o acusasse de traição e o tivesse massacrado à cutelada
com as suas próprias mãos. A poesia e a vida de Al-Mu’Tamid foi isso mesmo: extrema intensidade, paixão arrebatada, contemplação sensual e sensorial, desmedido apego aos “bons vícios” da vida, ao amor, por vezes orgíaco e até bissexual, ao álcool e às noites sem fim. É muito interessante e revelador o pensamento tolerante e aberto destes maometanos que habitaram a Península Ibérica, nomeadamente no O MEU NARIZ É ÁRABE.
Cocriação:
Participação musical por:
Clarinetes Ad Libitum
Texto, Direção e Espacço Cénico
João Garcia Miguel
Composição Musical
Artur Fernandes
Intérpretes
Gustavo Antunes
Luís Fernandes
Rafael Zink
Músicos (Clarinetes Ad Libitum):
Nuno Pinto
Joseé Ricardo Freitas
Luiís Filipe Santos
Tiago Abrantes
Assistência de Encenação
Gustavo Antunes
Estagiário de Encenação
Rodrigo Goncçalves
Figurinos
Rute Osoório de Castro
Direc?ão Técnica
Roger Madureira
Produção
Ana Flores
Cássia Andrade
Estagiário de Produção
Ramadane Matusse
Vendas e internacionalização
Cássia Andrade
Direção de Comunicação
Rita Caetano
Comunicação e Imprensa
Alexandre Pereira
Ana Flores
Design
UP - Unlock Produções
Fotografia
Mário Rainha Campos
Centro de Documentação
André Heitor
Vídeo
Bruno Canas