A partir de um entendimento do desenho enquanto verbo – o acto de desenhar – e das suas particularidades processuais, propõe-se uma exposição coletiva que reúne um conjunto de obras de diversos autores portugueses contemporâneos. Trabalhando e entendendo o desenho no seu território expandido (que extravasa, necessariamente, o seu contexto disciplinar para abraçar outras dimensões da expressão como a imagem gráfica, fotográfica ou em movimento, ou mesmo a escultura ou a instalação) procurar-se-á investigar as condições de invisibilidade inerentes à edificação do processo do desenho e o quanto estas podem enformar não somente o processo, mas também, invariavelmente, o seu resultado. Desenhar é estabelecer, permanentemente, uma relação com o desconhecido, com o que ainda não foi desenhado, com o que está por vir. Tentar desvendar-lhe os contornos, imaginando-o, procurando tocar-lhe simultaneamente. Encontrando essa linha que promove o estabelecimento de relações dialógicas entre as suas dimensões ótica e háptica, e extraindo permanentemente uma análise, em tempo real, sobre as suas condições perspectivas, projetivas e prospetivas. Procurar o desenhável revelando o indesenhável. A exposição “Ver no escuro” procurará constituir-se como um encontro com este lugar obscuro do desenho e prevê a apresentação de obras de: Alice Geirinhas, Ana Jotta, AnaMary Bilbao, Bruno Cidra, Carlos Noronha Feio, Catarina Lopes Vicente, Cláudia Guerreiro, Cristina Ataíde, Daniel Fernandes, Dayana Lucas, Diogo Bolota, Francisca Carvalho, Gonçalo Barreiros, Horácio Frutuoso, Isabel Carvalho, Joana Fervença, Jorge Queiroz, Mariana Gomes, Mattia Denisse, Noé Sendas, Pedro A. H. Paixão, Pedro Barateiro, Pedro Henriques, Rui Horta Pereira, Sara Bichão e Sara Chang Yan.
“Há um desenho em tudo, até no desenho. O desenho do desenho do desenho não tem autor nem suporte nem gesto nem desenho. É um desenho a desenhar-se sem consciência da consciência do desenho. Desenhar invade o campo do aparente, onde o desenhar-desenhar é imperceptível.
Desenhar-desenhar-desenhar é ainda mais oculto, é o desenho a desenhar o indesenhável. (...)”
Miguel-Manso, in “Um Lugar a Menos”
Os Carimbos de Gent (edição de autor), Lisboa, 2012 (p.64)